Nova técnica permite gravidez sem uso de hormônios
07/07/2010 11:25
Camila Tiemi Shiozuka Rezende nasceu no final de julho em São Paulo com 3,1 kg e 49 centímetros depois de 37 semanas de gestação. Para quem não conhece os bastidores que levaram ao nascimento da menina, ela é um bebê como qualquer outro. Para a mãe, a analista de sistemas Nancy, 32 anos, Camila “é um milagre”. A menina é um dos primeiros bebês nascidos no Brasil a partir da técnica de maturação de óvulos em laboratório. Nos últimos três anos, as principais clínicas de fertilização do país vinham tentando aprimorar o método que parecia muito engonhoso na teoria e pouco eficaz na prática. Agora elas comemoram os primeiros casos de sucesso.
A maturação de óvulos em laboratório funciona assim:
1) No oitavo dia do ciclo menstrual, a mulher recebe uma única injeção do hormônio da gravidez. Ele faz com que os óvulos imaturos (folículos) se desprendam da parede do ovário;
2) Guiado por uma ultrassonografia, o médico insere uma agulha na vagina e extrai os folículos;
3) Os folículos são colocados numa placa de cultura com aminoácidos e proteínas que estimulam seu amadurecimento;
4) Quando o óvulo está pronto, é fertilizado em laboratório com os espermatozóides do parceiro;
5) Três dias depois, o embrião já tem oito células e é implantado no útero da paciente.
A maturação de óvulos fora do corpo da mulher é útil principalmente no caso das pacientes que têm ovários policísticos, síndrome que dificulta a fecundação natural. O método tradicional de fertilização in vitro exige a ingestão de doses elevadas de hormônios. Mulheres com ovários policísticos são as que mais sofrem os efeitos colaterais desses hormônios: depressão, aumento de peso, acne. Nancy, que já havia tentado engravidar outras vezes pelo método convencional, diz que a nova técnica é muito mais confortável para a mulher. “Desta vez não fiquei inchada nem tive oscilações de humor. Foi tudo muito mais fácil”, afirma. Além de evitar a necessidade de uso desses hormônios, a nova técnica é mais barata que a convencional. Custa cerca de R$ 3,9 mil. A fertilização in vitro comum custa cerca de R$ 8 mil e a paciente ainda gasta mais R$ 5 mil em hormônios.
"A maturação de óvulos em laboratório é uma boa opção mas traz uma desvantagem importante: apenas 30% das mulheres submetidas a ela engravidam", diz o médico Alfonso Massaguer, da Clínica Huntington, em São Paulo. "Na fertilização in vitro tradicional, o índice de gravidez é de 60%”. Oito mulheres foram submetidas ao novo procedimento na clínica. Apenas duas engravidaram. Só Camila nasceu. Os resultados foram apresentados por Massaguer nesta quinta durante uma das sessões do Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida, realizado em São Paulo. Um outro bebê nasceu a partir do mesmo método oferecido por uma clínica de Porto Alegre.
A maturação in vitro já é aplicada rotineiramente em países como Canadá, Coréia do Sul, China e Japão. Ela é usada com sucesso por mulheres que enfrentam dificuldades para engravidar por várias causas - e não somente por causa da síndrome de ovários policísticos. Se a eficiência do método melhorar, é possível que em breve todas as mulheres que procuram as clínicas de fertilização possam realizar o sonho da maternidade sem enfrentar o sofrimento provocado pelas doses de hormônios.
Fonte: Revista Época - https://revistaepoca.globo.com/
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